Bissau, 28 de julho de 2025 - O Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil da Guiné-Bissau e a Frente Popular emitiram uma condenação conjunta contundente nesta segunda-feira, denunciando o assassinato do ex-agente da segurança presidencial Mamadu Tano Bari e a violenta agressão ao jornalista da RTP-África, Waldir Araújo. As organizações responsabilizam diretamente o ex-Presidente Umaro Sissoco Embaló pelos incidentes e exigem investigações independentes imediatas.
O Contexto da Violência
Em comunicado oficial enviado à CFM (Confederação de Futebol da Guiné-Bissau), as duas organizações da sociedade civil afirmaram que o país "voltou a mergulhar num cenário de horror e indignação" após o que classificaram como "hediondo e cruel" assassinato de Mamadu Tano Bari, ocorrido recentemente na capital guineense.
O caso de Mamadu Tano Bari representa mais um episódio na crescente espiral de violência política que tem caracterizado a Guiné-Bissau nos últimos anos. Como ex-agente da segurança presidencial, Bari ocupava uma posição sensível no aparelho de Estado, tornando sua morte particularmente preocupante para a estabilidade institucional do país.
Dupla Agressão: Segurança e Imprensa sob Ataque
Paralelamente ao assassinato de Bari, o jornalista Waldir Araújo, correspondente da RTP-África, foi brutalmente agredido no domingo (27 de julho) no centro de Bissau. Este ataque representa uma grave violação da liberdade de imprensa e um atentado direto contra o direito fundamental à informação.
A agressão ao jornalista da RTP ocorreu em pleno centro da capital, demonstrando a audácia dos perpetradores e evidenciando o clima de impunidade que parece prevalecer no país. O timing dos dois incidentes - o assassinato de um ex-agente de segurança e a agressão a um jornalista internacional - sugere uma possível coordenação ou, no mínimo, um ambiente propício à violência política.
Responsabilização Direta do Ex-Presidente
De forma inequívoca, o Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil e a Frente Popular responsabilizam diretamente Umaro Sissoco Embaló, ex-Presidente da República da Guiné-Bissau, por ambos os incidentes. Esta acusação direta contra uma figura de tal proeminência política demonstra a gravidade da situação e a deterioração das relações entre a sociedade civil e o antigo líder.
Umaro Sissoco Embaló, que governou a Guiné-Bissau durante um período turbulento, tem sido uma figura controversa na política guineense. Sua presidência foi marcada por tensões constantes com diversas instituições e organizações da sociedade civil, culminando agora nestas acusações diretas de responsabilidade por atos de violência.
Exigências de Transparência e Justiça
As organizações apresentaram um conjunto claro de exigências às autoridades competentes:
Investigação Independente do Assassinato
O documento exige categoricamente a abertura imediata de um inquérito independente, credível e imparcial sobre o assassinato de Mamadu Tano Bari. Esta exigência reflete a desconfiança generalizada nas instituições judiciárias do país e a necessidade de garantir que a investigação seja conduzida sem interferências políticas.
Divulgação dos Resultados Forenses
As organizações também exigem a divulgação urgente dos resultados da perícia forense por parte da Polícia Judiciária. Esta transparência é considerada fundamental para garantir à família da vítima o direito inalienável à verdade e à justiça, princípios básicos do Estado de Direito.
Responsabilização pelos Ataques à Imprensa
No que concerne à agressão ao jornalista Waldir Araújo, as entidades repudiam o ataque com "total indignação" e apelam à identificação e responsabilização penal dos agressores. Esta posição reforça a importância da liberdade de imprensa como pilar fundamental da democracia.
Alerta sobre Ameaças à Democracia
Num tom de forte alerta, o Espaço de Concertação e a Frente Popular chamaram a atenção do povo guineense para os "perigos reais e crescentes" que Umaro Sissoco Embaló representa para:
- A integridade das instituições - A erosão das estruturas democráticas e do funcionamento normal do Estado
- Os direitos dos cidadãos - A violação sistemática dos direitos humanos fundamentais
- A estabilidade nacional - O risco de agravamento da crise política e social
O Papel das Organizações da Sociedade Civil
O Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil da Guiné-Bissau tem desempenhado um papel crucial no monitoramento da situação democrática do país. Esta plataforma agregadora de diversas organizações não-governamentais tem sido uma voz consistente na defesa dos direitos humanos e da transparência governamental.
A Frente Popular, por sua vez, representa um movimento político que tem se posicionado criticamente em relação às práticas autoritárias e à corrupção no país. A união destas duas forças numa condenação conjunta demonstra a amplitude do repúdio aos recentes eventos.
Contexto Histórico da Instabilidade Guineense
A Guiné-Bissau tem uma longa história de instabilidade política, com sucessivos golpes de Estado, assassinatos políticos e crises institucionais. O país, que conquistou a independência de Portugal em 1974, nunca conseguiu estabelecer um sistema democrático verdadeiramente estável.
Os problemas estruturais incluem:
- Fragilidade institucional - Instituições democráticas frágeis e frequentemente instrumentalizadas
- Corrupção endémica - Sistemas de corrupção que permeiam diversos níveis do Estado
- Tráfico de drogas - A posição geográfica estratégica tornou o país uma rota importante para o tráfico internacional
- Pobreza extrema - Condições socioeconómicas precárias que alimentam a instabilidade
Impacto na Liberdade de Imprensa
A agressão ao jornalista Waldir Araújo da RTP-África representa um ataque direto à liberdade de imprensa na região. A RTP-África, como órgão de comunicação social português com cobertura nos países africanos de língua portuguesa, desempenha um papel importante na divulgação de informação sobre a Guiné-Bissau para o mundo lusófono.
Este incidente insere-se num padrão mais amplo de ataques aos media na África Ocidental, onde jornalistas enfrentam crescentes ameaças no exercício da sua profissão. A comunidade internacional tem expressado preocupação com a deterioração das condições de trabalho para os profissionais dos media na região.
Reações Internacionais Esperadas
Embora o comunicado não mencione reações internacionais específicas, é expectável que organizações internacionais de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa se pronunciem sobre estes eventos. A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e organizações como a Repórter Sem Fronteiras têm historicamente monitorizado a situação na Guiné-Bissau.
Implicações para a Estabilidade Regional
A instabilidade na Guiné-Bissau tem implicações que transcendem as fronteiras nacionais. O país situa-se numa região já marcada por diversos desafios de segurança, incluindo atividades terroristas no Sahel, tráfico de drogas e migração irregular.
A deterioração da situação interna pode contribuir para:
- Fluxos migratórios - Aumento da emigração para países vizinhos e Europa
- Atividades criminosas - Expansão de redes de tráfico de drogas e outros crimes transnacionais
- Contágio político - Possível influência desestabilizadora em países vizinhos
O Papel da Comunidade Internacional
A comunidade internacional, particularmente os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e as organizações regionais africanas, têm uma responsabilidade crucial no apoio à estabilização da Guiné-Bissau.
As possíveis medidas incluem:
- Mediação política - Facilitação do diálogo entre as diferentes forças políticas
- Apoio técnico - Assistência no fortalecimento das instituições democráticas
- Monitorização - Acompanhamento contínuo da situação dos direitos humanos
- Pressão diplomática - Utilização de canais diplomáticos para promover a responsabilização
Perspetivas Futuras
O futuro da Guiné-Bissau depende largamente da capacidade das diferentes forças políticas e sociais encontrarem um caminho para o diálogo e a reconciliação. O papel das organizações da sociedade civil, como demonstrado neste comunicado conjunto, será crucial na pressão por transparência e justiça.
A mobilização da sociedade civil, conforme apelado pelas organizações, pode ser um fator determinante para:
- Pressão por justiça - Manter a pressão pública para investigações credíveis
- Proteção de direitos - Defender os direitos humanos fundamentais
- Fortalecimento democrático - Promover o funcionamento das instituições democráticas
Compromisso com os Valores Democráticos
No final do seu comunicado, as organizações reafirmaram o seu compromisso inabalável com a justiça, a liberdade e a dignidade humana. Este compromisso traduz-se num apelo à mobilização de todas as forças democráticas em defesa de três pilares fundamentais:
- Legalidade - O respeito pelo Estado de Direito e pelas normas jurídicas
- Soberania popular - O reconhecimento da vontade do povo como fonte de legitimidade política
- Verdade - A transparência e a honestidade na vida pública
Desafios para as Investigações
As investigações dos dois casos enfrentarão diversos desafios:
Obstáculos Técnicos
- Limitações na capacidade forense das autoridades locais
- Possível contaminação ou perda de evidências
- Recursos limitados para investigações complexas
Obstáculos Políticos
- Possível interferência política nas investigações
- Ameaças a testemunhas e investigadores
- Pressões para arquivamento dos casos
Obstáculos Sociais
- Clima de medo e intimidação
- Desconfiança da população nas instituições
- Polarização social e política
O Legado de Mamadu Tano Bari
Embora poucos detalhes tenham sido divulgados sobre a vida de Mamadu Tano Bari, a sua função como ex-agente da segurança presidencial coloca-o numa posição particular no aparelho de Estado. Os agentes de segurança presidencial têm acesso a informações sensíveis e desempenham funções críticas na proteção das mais altas figuras do Estado.
O seu assassinato levanta questões sobre:
- Motivações - Se o crime teve motivações políticas, pessoais ou criminais
- Informações - Se Bari possuía informações comprometedoras para figuras políticas
- Segurança - As falhas no sistema de proteção de ex-funcionários estatais
Impacto na Opinião Pública
A conjugação dos dois eventos - o assassinato de um ex-agente de segurança e a agressão a um jornalista - tem um impacto significativo na opinião pública guineense. Esta situação pode contribuir para:
- Desconfiança institucional - Erosão da confiança nas instituições do Estado
- Autocensura - Medo entre jornalistas e ativistas de expressarem opiniões críticas
- Polarização - Aprofundamento das divisões políticas e sociais
Papel dos Media Internacionais
A cobertura destes eventos pelos media internacionais será crucial para manter a pressão sobre as autoridades guineenses. A RTP-África, enquanto vítima direta dos ataques, tem uma responsabilidade particular na divulgação da situação.
Os media internacionais podem contribuir através de:
- Visibilidade - Manter os casos na agenda pública internacional
- Pressão - Criar pressão diplomática através da opinião pública internacional
- Solidariedade - Demonstrar solidariedade com os colegas jornalistas locais
Conclusão: Um Momento Decisivo
Os eventos de julho de 2025 na Guiné-Bissau representam um momento decisivo para o futuro democrático do país. A resposta da sociedade civil, das autoridades nacionais e da comunidade internacional determinará se estes crimes permanecerão impunes ou se marcarão o início de uma nova era de responsabilização e transparência.
O apelo das organizações da sociedade civil para a mobilização de todas as forças democráticas reflete a gravidade do momento e a necessidade urgente de ação coordenada para defender os valores fundamentais da democracia, dos direitos humanos e do Estado de Direito.
A Guiné-Bissau encontra-se numa encruzilhada: pode escolher o caminho da justiça, da transparência e da reconciliação, ou pode continuar na espiral de violência e impunidade que tem caracterizado a sua história recente. A escolha que for feita nas próximas semanas e meses terá implicações duradouras para o futuro do país e da região.
O eco das palavras do Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil e da Frente Popular ressoa como um apelo urgente à consciência nacional e internacional: a democracia na Guiné-Bissau está em perigo, e apenas uma resposta firme e coordenada pode salvaguardar os direitos e a dignidade do povo guineense.
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